Monday, August 08, 2005

PRIMEIRA SESSÃO

  • Primeira Sessão – José Miguel Wisnik

QUEM É JOSÉ MIGUEL WISNIK...

José Miguel Wisnik é músico/compositor e professor de Literatura Brasileira na USP. Nasceu em São Vicente, no litoral do estado de São Paulo, e define-se como um "paulista do mar" (além de "baiano também").
Wisnik estudou piano clássico durante muitos anos, mas optou pela faculdade de Letras. Apresentou-se pela primeira vez como solista da Orquestra Municipal de São Paulo aos 17 anos, interpretando "Concerto n¼ 2", de Camille Saint-Saes. Em 1968, chegou até a participar de um Festival Universitário da extinta TV Tupi com a canção Outra Viagem, cantada por Alaíde Costa (e gravada posteriormente por Ná Ozzetti).

Por volta de 1985, Wisnik acabou se juntando a diversos músicos, era um "freqüentador" do Grupo Rumo e compunha músicas com os amigos. Se diz um professor universitário que queria ser músico popular e desde 1973 nunca parou de dar aulas.

Tem três discos gravados. O segundo, São Paulo Rio, teve participação de Elza Soares. Esta "parceria" com a cantora lhe rendeu a direção artística do último disco de Elza, além de alguns shows em 2002.
São Paulo Rio chegou ao mercado exclusivamente pela internet em uma parceria entre o portal iG e a loja virtual Submarino, e hoje é encontrado também em lojas. Wisknik já teve suas músicas gravadas por Gal Costa, Ná Ozzetti, Edson Cordeiro, Zizi Possi entre outros.

Também escreve ensaios sobre música e literatura. Publicou "O Coro dos Contrários - a Música em Torno da Semana de 22" (Duas Cidades, 1977), "O Nacional e o Popular na Cultura Brasileira" (Brasiliense, 1982) e "O Som e o Sentido" (Companhia das Letras, 1989), além de participar dos livros coletivos "Os Sentidos da Paixão, o Olhar e Ética" (Companhia das Letras, 1987, 1988 e 1992).

Além de seus discos, livros, ensaios e aulas, Wisnik fez também música para cinema (Terra Estrangeira/Walter Salles e Daniela Thomas), teatro ("As Boas", "Hamlet" e "Mistérios Gozozos" para o Teatro Oficina, e "Pentesiléias", de Daniela Thomas, dirigida por Bete Coelho) e dança. Fez duas trilhas sonoras para o grupo Corpo, uma delas, Parabelo, em parceria com Tom Zé.

Já recebeu alguns prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, além do premio Jabuti em 1978 entre outros.

  • Hermano se lembra de uma história com Tinhorão também, tal qual o texto do Wisnik
  • Hermano ficava tocando funk carioca na frente do Tinhorão, que não achava boa idéia
  • Tinhorão ficava falando que o livro do Hermano “Os mistérios do samba” estava todo errado...
  • Wisnik começa a falar sobre seu texto. O texto descreve o primeiro encontro dele com Tinhorão na década de 70 e 15 anos depois. O texto considera várias questões pertinentes à discussão do projeto Overmundo. A idéia é ouvir o grupo, que questões surgem a partir do texto?
  • Perguntas, indagações? ? ? ? ? ?
  • YOUSEF ABRAHIM de Manaus
    • Tanto o audiovisual quanto à música são formatados para consumo fácil. Em Manaus, de 20 anos para cá tudo demorava 6 meses para chegar. Mas ainda vemos o mesmo tipo de “música fácil” por lá. Não vi muitas mudanças. O gosto continua sendo imposto...
  • FÁTIMA ALVES, Rondônia
    • As pessoas continuam apenas “ouvindo”... O que se ouve em Porto Velho é o que se encontra aqui. O nosso grande questionamento é “o que está faltando?”. Por que a produção local só consegue ser ouvida localmente? Quem sabe a gente consiga um caminho para difundir o trabalho produzido localmente. Há produção em várias áreas, música, dança, literatura. Como furar esse “bloqueio nacional” ?
  • RENATO, Vitória, Espírito Santo
    • O texto que eu mandei descreve o fato de que no Espírito Santo não há cenas. O mesmo show que vai na Ivete Sangalo vai no Sepultura. Isso é positivo, pois todo mundo participa de tudo. Mesmo no lado “ruim” ou “positivo”. O ES pulou da agricultura para a indústria, importando mão de obra. Muita gente do país foi para lá, criando um caldeirão de influências de outros Estados. Finalmente perceberam que há muita coisa por lá. Não precisamos buscar “identidade”. Há desde os Mestres de Congo ao Dead Fish.
  • Hermano – Mesmo no mangue, havia a impressão de que nada acontecia antes. Nas músicas em que as pessoas escolheram, o Mombojó aparece em primeiro lugar. Como eles furaram o bloqueio, não sendo de nenhuma grande gravadora? Eles colocaram sua música na Internet.
  • RENATO, Recife, Pernambuco
    • Nos últimos 20 anos em Recife firmou-se todo um circuito de produção que não existia até os anos 90. Nos anos 80 não havia nada, nem rock nacional. A partir de 90 criou-se uma cena, até hoje atuante. Nos dados sobre o grupo apareceram duas bandas de Recife, Nação Zumbi e Mombojó, que é “pós-mangue”. Recife foi pioneira em várias iniciativas. Conseguimos “re-trabalhar” essas informações, procurando canais alternativos. O símbolo do mangue-bit era a antena parabólica enfiada na lama. Reconheço que há vários problemas na relação Norte-Sul, por exemplo, mas acho que há uma série de canais alternativos.
    • Todas as bandas continuam morando no Recife. Até a geração de Alceu Valença, todo mundo teve de vir ao Rio, SP. Agora dá para trabalhar na própria cidade.
  • Hermano – Canais globais também, como o DJ DOLORES, que vive pelo mundo.
  • José Miguel Wisnik – Há uma mídia que tem um poder massivo de filtrar o que se ouve. Essa mídia é uniformizadora. Ao mesmo tempo, há manifestações locais que ou não são ouvidas ou não conhecidas fora das localidades, ou existem redes novas para circular a cultura, que não correspondem ao funcionamento tradicional da indústria cultural. Isso aparecia nos textos do grupo, de duas redes paralelas. Acho que é a mesma coisa que no meu texto com o Tinhorão. Na cabeça do Tinhorão existe a grande indústria cultural ligada a interesses multinacionais afirmando um cultura mercadológica, em oposição a uma cultura nacional autêntica. Isso inclui um pensamento “adorniano” de que a cultura é mercadoria industrializada, destruindo a dinâmica da cultura. Ninguém mais escuta “música” em si, mas simplesmente tem uma atitude consumista de fetichização da mercadoria. As pessoas aderem àquilo, sem escuta. A audição regridiria, assim. Na década de 60 isso chamava-se de visão “apocalíptica” (o apocalipse da cultura). Eu chamo isso de “fundamentalismo do Tinhorão” no sentido de acreditar que existe uma cultura popular “autêntica”, genuinamente brasileira, opondo-se ao “estrangeiro”. Essa visão faz um recorte de oposições, acreditando que o popular é bom e o estrangeiro ruim. Na década de 60, a posição tropicalista veio como reação a esse quadro. Recusar essa “autenticidade”, dizendo que a vida no Brasil contemporâneo faz conviver samba de roda com Stockhausen etc etc. É como se não existissem nativos de nichos culturais específicos. O Gil expressa isso na música Parabolicamará. Tem capoeira e informação simultaneizada. Todos ganhamos não pensado ao modo Frankfurtiano, nem no modo do Tinhorão. Há sim um choque das duas visões. Onde se pensa a cultura? Pelos depoimentos do grupo, também a imprensa passa por uma desagregação ligada à situação financeira dos jornais. O investimento na Internet não deu certo como esperado e o trabalho jornalístico acabou empobrecido. Mas acho que é uma tendência do jornalismo cultural, que também é indústria cultural. Eu acho que de fato existe o fenômeno da regressão da audição e da debilitação do jornalismo cultural. Por exemplo, jornais que só reproduzem releases. Um certo jornal de São Paulo que criou uma idéia de que o protagonista é o próprio jornalista. Isso debilita o repertório de informações disponível. O PAS, que escreveu por anos na Folha, que é autor do livro sobre a Tropicália, é uma compilação de erros e desinformação. É uma questão de debilitação do repertório, que o jornalista precisa mobilizar. Na Argentina é possível notar que o jornalista trabalha lastreado. Vejo essa oportunidade como muito importante, nada garante que irá resolver, mas é muito estimulante que as pessoas possam trabalhar de acordo com o proposto nos testemunhos.
  • EDIMUNDO, João Pessoa, Paraíba
    • Essa é uma ótima oportunidade. A mídia paralela tem os seus veios também.
      Ela também nos empurra algumas coisas. Em João pessoa há o festival da Padroeira. Nesse ano mudou, teve Chico Correa e outros artistas que não tinham espaço antes. Houve um certo estranhamento por parte das pessoas que não esperavam por aquilo. Muitas vezes publicam-se matérias, mas não se sabe nada sobre o que ocorreu. É importante discutir como se buscar a informação.
  • Hermano – Qual o local da tropicália na cultura brasileira? Para um jornalista da geração do PAS isso tornou-se um problema para a cultura brasileira, porque nada mais pode acontecer. Muito da música que classificamos como música de baixa qualidade não está sendo imposto pela mídia. O forró contemporaneo toca só em rádios locais, o DVD é vendido no camelô. Essa música considerada de baixa qualidade não está na mídia. A música mais popular não está na mídia
  • FERNANDO COELHO, Maceió
    • Essas manifestações fora da mídia criaram seus próprios circuitos e são auto-suficientes. É importante conhecer o forró? Sim, mas também é importante conhecer os “mestres” tradicionais. O papel do jornalista cultural é investigar as mais diversas expressões. Independente de ser cultura de massa ou não. Qualquer informação que represente qualquer expressão é objeto de investigação.
  • EDSON, Goiânia
    • Goiânia tem uma cena forjada localmente de rock e música pop baseada na cultura norte-americana. Mesmo que os produtores e pessoas que lideram essa cena reforcem a idéia da independência, as bandas querem também aparecer no Faustão. Como tratar a tal da Major? Ignorá-la?
  • RODRIGO, Mato Grosso do Sul
    • O que é ser brasileiro? O MS tem uma grande influência do Paraguai. Há uma influência sobre a música de lá. É muito difícil para as pessoas de fora entenderem essa música. Os músicos de lá estão migrando para o Paraguai. As pessoas são muito mais Paraguias nos costumes do que brasileiros. Há várias iniciativas de se fazer festivais trans-nacionais.
  • ELIAKIN, Roraima
    • O que é brasileiro? A mistura é total. Desde os modernistas já havia a questão de deglutir o que é de fora. Sanfona e Guitarra elétrica? Melhor ficar com os dois. Em Roraima essa onda está chegando agora, como no movimento Rorameira. O conceito de “Glocalizado” é importante. O que achamos acha desse conceito de Glocalizado?
  • Maíra, Aracaju
    • Sobre a questão da visibilidade, quais são as prioridades? A lista de discussão nordeste independente é importante. Virou um canal importante de informações. A questão da qualidade é importante. Quem legitima o que? O que é bom? Isso parece ser a função do jornalismo cultural. Há muita gente que não tem condições de constituir uma rede. No Forró Caju, existe também um fórum, que inclui tanto os mestres quanto o pessoal do forró eletrônico. Que tipo de visibilidade mais é necessário? Os mestres estão lá para dizer que são eles que estão precisando de visibilidade. A questão não julgamento de qualidade, mas sim discutir quem precisa ser legitimado. Como usar o espaço que temos para ajudar a catapultar coisas que ainda não conseguiram espaço
  • Wisnik – Sobre o comentário do Eliakin de Rorááááima (e não Rorãima), fonte do Macunaima... Um traço brasileiro é a vitalidade de múltiplas formas de vida musical, tanto locais quanto interagindo, fronteiras com Paraguai e Uruguai, incorporação de tecnologias a coisas “nativas”, tudo isso é um traço brasileiro e invejável. Culturas mais estabelecidas separaram claramente entretenimento de alta-cultura e os trânsitos são muito menores. Por um conjunto de riquezas e pobrezas, no Brasil isso tudo se manifesta e se cruza. Tudo isso passa pela aceitação da diferença. O contexto de identidade nacional é rebatido pela idéia de que existem diferenças. Poesia e canção no Brasil, por exemplo. Há um momento de afirmação de diferenças também. Ao mesmo tempo, essas mesma questão produz uma nova pergunta sobre a identidade brasileira. Seria a identidade das diferenças? O trabalho do Hermano tem isso no cerne. Essa é uma questão muito presente. Como um site que propõe diversidades locais pode lidar com a idéia de conjunto? É possível jornais sem autoria, desaparecendo a idéia de autor. Isso é multiplicar a diferença em um limite infinito. Isso se decanta em texto, resultantes do processo. A identidade se coloca de outro modo, em outro lugar. Ao mesmo tempo a questão da identidade nacional.
  • POST
  • FÁTIMA ALVES, Porto Velho, Rondônia!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! (e não Roraima!)
    • O que é raiz e legitimamente local? Em Rondônia há uma questão interessante. Não é fazer resgate do que é local, mas por causa da migração, o Estado foi ocupado por gente de todo Brasil. A questão da cultura local está vindo à cena agora. A geração nova tem a nossa mesma faixa etária, brigando para colocar a cultura local em cena. A maioria da população nem a conhece. Eu vejo isso como muito interessante. Não estamos buscando resgate saudosista, mas sim de fazer conhecer e colocar em cena.
  • INTERVALO!!!!!!!!!!!! ËBA!

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