Monday, August 08, 2005

SESSÃO FINAL DE HOJE

QUARTA SESSÃO – REGINA ZAPPA

  • REGINA ZAPPA
    • Houve em muitos textos uma certa nostalgia com relação ao passado, necessidade de debate, reflexão, etc. Muitos jornalistas convidados disseram que não tinham tempo para vir. A falta de tempo contribui no empobrecimento do jornalismo cultural.
    • A editoria de cultura é sempre considerada perfumaria, é legal, mas não é importante. Havia brigas diárias para emplacar chamadas de cultura. Sempre que tinha de cortar algo, era na área de cultura.
    • Sobre os textos que foram enviados.
    • Editar é quase um ato político, você lida com informação, que é poder. Como trazer a informação de forma genuína, refletida, etc.?
  • Questão da responsabilidade do jornalista
  • Cadernos deixam de abordar temas socialmente importantes
  • São amplificadores da indústria cultural
  • Jornalismo deveria fazer refletir e educar
  • Qual seriam elementos que deveriam estar presentes no jornalismo cultural e os problemas?
    • Ampliar o acesso a bens culturais diversos
    • Novas perspectivas para a cultura
    • Mais democrático
    • Conhecimento crítico
    • Incapacidade crítica (leitura sem questionamento)
    • Ausência de responsabilidade por parte dos jornalistas
    • Sem leitores críticos, o jornalismo só piora
    • Enxurrada de informações – isso significa melhor formação?
    • Poucas reportagens
    • Espaço para pensar o presente, passado, futuro
    • Superficialidade, falta de discussão de temas
    • Credibilidade da informação
      • Blogs e sites podem ser levianos
    • Ausência de equilíbrio entre entretenimento e reflexão
    • Exploração do banal
    • Cadernos de cultura estão se transformando em colunas sociais
    • Como o conhecimento é usado para estabelecer verdades
      • a verdade pela repetição
    • pão e circo – dar ao leitor aquilo que ele quer
      • fenômeno das pesquisas para saber o que o leitor quer ler
    • poder dos jornalistas – jornalistas culturais tornam-se ditadores do bom gosto e destruidores daquilo que não está na pauta do dia
    • distanciamento do fato cultural com a realidade em que vivemos, como trazer a manifestação cultural para a realidade brasileira ou mundial?
      • Crime em diadema, policiais mataram uma ou duas pessoas. Isso foi filmado e televisionado, tornando-se discussão nacional.
        • O que fazer na área de cultura para se inserir em uma discussão como essa? Fingir que nada tivesse acontecido?
        • Matéria cultural a respeito do hip hop em São Paulo, mostrando que o que ia acontecer já vinha sendo denunciado
    • Linguagem – contato com temas artísticos melhoram os textos
    • Maneira condecendente de noticiar o nordeste, como se não produzissem cultura urbana
    • América do Sul é invisível
    • Burocratização destruindo a espontaneidade e dureza ao relatar os fatos
    • Cópia & Paste e “dadaísmo”, jornalista pop star muito ego e pouca ética
    • Internet, espaço alternativo que oferece amplo campo para trabalho, mas de acesso limitado. Inclusão digital é um fator.
    • “Internet é caótica, alguém precisa colocar ordem na casa”
    • “Exigir leitor mais qualificado” para distinguir o que é bom, porque na Internet tudo é mais fragmentado.
    • Na Internet o indivíduo é o próprio filtro.
    • Nova cultura sendo criada e novos fenômenos culturais
    • Redes de informação livres e safra de blogs fora do eixo
    • Nova construção coletiva do conhecimento
  • FÁTIMA ALVES, RONDÔNIA
    • Lá em Rondônia estamos em outro Brasil. Temos quatro jornais diários, para uma população de 350.000 habitantes. Apenas dois tem página cultural. O editor do caderno de cultura (Diário da Amazônia) é também fotógrafo e repórter. Não há teatro. Apesar disso o movimento cultural tem sido muito efervescentes. Única capital que não tem um teatro. Há uma relação “promíscua” entre jornal e o governo.
  • REGINA – Isso também acontece na grande imprensa em outros locais, de forma mais sutil e em outra escala. Cada vez mais há menos gente trabalhando nas redações e fazendo mais coisas. Não dá para saber como resolver isso e o que acontecerá no futuro.
  • ITEVALDO, Maranhão
    • Como resolver o problema do caixa do jornal? O jornal fica refém do seu setor comercial. Como fugir das amarras das relações comerciais? Os jornalistas culturais são fruto de uma estrutura econômica dos jornais do país inteiro. Cada lugar tem problemas muito parecidos. Como conseguir pautar “Tróia” em Manaus. Nesse ano o Guarnicê não ganhou uma linha nos jornais, em razão do seu patrocínio. Ser crítico no Maranhão é decidir entre a cultura local e a nacional. Jornais de São Paulo copiam modelos que não são adequados também para o Rio e para São Paulo, por exemplo, modelos estrangeiros.
  • ELIAKIN, Boa Vista
    • Os textos representam o que há de mais contemporaneo no jornalismo cultural no Brasil. Vc encontrou alguma novidade nos textos? Ou algo que esperava encontrar e não encontrou?
  • REGINA – Muitas coisas que eu vi nos textos são coisas que eu concordo, mas que pessoas com as quais convivi nas redações não concordam. Não vi muitas novidades, pois são coisas que eu já vinha pensando. Houve colocações diferentes. O filtro ser o próprio indivíduo na Internet é algo que eu não havia pensado antes. A questão da construção coletiva também me levou a pensar no tema de forma diferente. Não li os textos esperando encontrar algo específico.
  • Hermano – Uma das coisas que podem ser interessantes seria uma “trans-editoria”. O funk era noticiado sobretudo pelos cadernos policiais no rio de janeiro. O entendimento cultural do que acontece na periferia seria muito importante para os cadernos policiais lidarem com questões suas também. A maior parte das pessoas aqui também é produtor ou produtora cultural, já esteve dos dois lados. Fico pensando nas coisas que produzi, como o música do brasil. Nenhum levantamento musical tinha tido aquela dimensão. A negociação para lançar era muito esquisita. Certos jornais diziam que dariam a matéria, primeira página, se tiver exclusividade. Daí não sairia nos outros jornais. Se sai em um jornal antes, não interessa para os outros jornais. Você acaba conseguindo pautar os jornais como acessor de imprensa, dizendo o que será a primeira página, etc. Sou curador do TIM Festival, a gente é bombardeado durante o ano para saber quem vem. Depois, quando o Festival acontece, não tem cobertura do que aconteceu no Festival. Em nenhum momento tinha a cobertura dos shows brasileiros, ninguém falava. É importante para os brasileiros estarem lá por causa do currículo. Há um estilo de jornalismo dominante a partir dos anos 80 em que se valoriza a polêmica. Um situação foi quando acabei de defender a minha tese, O Mistério do Samba, sem perspectivas ainda de ser lançado. Um certo jornalista apresentava para as pessoas as idéias do livro, sem ter lido, dizendo “você concorda?”.
  • REGINA – O furo para mim não vale nada, o que vale é fazer melhor a matéria e não dar a notícia primeiro.
  • ITEVALDO, Maranhão – Quanto ao “trans-editorial”, o ministério das cidades está discutindo o plano diretor. Em São Luiz a gente usa a rua, a praça e uma série de espaços urbanos. Ao discutir a reforma urbana, não se discute a parte da cultura. É um ponto importante para o plano diretor. Qual é o lugar da cultura na cidade? Cultura e esporte, o que fazer?
  • EDMUNDO, João Pessoa – Sobre a questão do furo, já que a gente tem uma ferramenta como o site, é preciso notar que o mercado cultural vem usando isso em função do descrédito com os cadernos de cultura. Alguns artistas já se negam a dar entrevista porque o que vale é o release das majors. A Internet é meio de divulgação que tem mais crédito, porque ele é o filtro. Muita gente vai direto ao site.
  • HERMANO – Já escrevi vários releases e me perguntei quem iria ler aquilo. Aqui para o Rio e SP não importa, mas nos jornais do interior eles copiam direitinho, disse um certo jornalista.
  • RODRIGO, Mato Grosso do Sul – O meu texto falou da invisibilidade da América do Sul. Tive experiência de dois festivais em Corumbá da América do Sul. Eu acabei conhecendo vários artistas. Susana Baca e vários outros. Não saiu uma nota sobre isso.
  • REGINA – Informação sobre nossos vizinhos na América do Sul é difícil de chegar por aqui.
  • RENATO, Recife – Acho que a Internet, principalmente no caso da música tornou o quadro muito caótico. Surgiram uma série de brechas de trabalho. Fiz um programa diário no Recife, sem ter contato com gravadoras. Tive sorte de trabalhar com mp3. Nem há mais a figura do divulgador de gravador em Recife. Os discos que eu recebo eu guardo e vendo por R$10 e gasto com outra coisa. Um ou outro disco eu guardo ou baixo na Internet.
  • REGINA – A questão do caos hoje na Internet trazido para a indústria da música, acho natural ser caótico nesse momento, já que o mundo nasceu do caos também. Esse é um período de muita novidade nessa época. As coisas acontecem muito rápido. Quem garante qual teoria está certa? Temos de aproveitar esse momento de caos para avançar quanto à criação coletiva.
  • FELA, Bauru – Morava em SP eu fui para Bauru. Só tem um jornal, ligado a um grupo empresarial da cidade. Sobre a questão do filtro e ser editor do seu próprio material, também o leitor pode fazer o filtro. A Internet tem uma falta de credibilidade muito grande. A molecada só faz trabalho buscando coisas na Internet. Se trabalhassem em jornalismo, estariam “ferrados”, já que não questionam nada.
  • REGINA – Quanto a essa visão mais descentralizada, ninguém consegue fazer nada que não seja minimamente filtrado, de acordo com sua formação, opinião etc. Duas coisas essenciais para o jornalista. Empenho e paixão. Quanto ao lado da credibilidade da Internet, deve ser vista como um meio, não um fim. A forma como vc vai ler ou escrever depende de informação que vc não obteve na Internet, mas em outras fontes.
  • Hermano – A Internet teve já três grandes blocos de história. O primeiro momento desbravador, em UNIX. Depois a web, que facilitou e tornou popular. E depois dinheiro grande entrou na construção da rede. No Brasil foi muito esquisito. A embratel achava que seria o único provedor. Vários outros provedores entraram muito rápido. A bolha logo estourou e os investimentos começaram a dar dinheiro de novo. Vários colegas acharam que iam ganhar fortunas na Internet. A questão do software livre e da criação de conhecimento coletivo ficou muito mais clara agora. O Software Livre é a grande questão cultural, social e política debatida no mundo hoje. A geração dos anos 60, comparada ao software livre e o que ele está conseguindo fazer, com apoio da IBM, de maneira a atingir o centro do poder, Micro$oft etc. que me parece ser um momento muito propício para investir em um trabalho como esse. Nossa idéia não é criar coisas novas, mas conectar coisas que já existem.
  • RENATO – Recife – Em uma pesquisa sobre credibilidade, o jornalismo impresso pode muito bem aparecer como tendo menos credibilidade. A principal fonte de notícias e furos no escândalo são os blogs, por exemplo o do Noblat.
  • REGINA – Esse caminho está sendo de fato trilhado.
  • ELIAKIN, Rorááááima – Endereços para todo mundo, para que se crie a rede.
  • YUNO, Natal – O Overmundo é justamente para organizar um pouco esse caos. Chega de filtro, o site é um imã de idéias que estão dispersas e que o Internauta pode encontrar. Pode-se transformar em uma consulta diária.
  • HERMANO – Viva Favela é um exemplo, eles formam correspondentes em favelas cariocas. O que deu certo não foi que tem leitores nas favelas. O site se tornou um pautador para as outras mídias, cultural, RJ TV, Jornal da Globo, que não tinham acesso a assuntos que estavam acontecendo nas favelas. Isso é como virar uma agência de notícias mesmo.

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