Monday, August 08, 2005

SESSÃO FINAL DE HOJE

QUARTA SESSÃO – REGINA ZAPPA

  • REGINA ZAPPA
    • Houve em muitos textos uma certa nostalgia com relação ao passado, necessidade de debate, reflexão, etc. Muitos jornalistas convidados disseram que não tinham tempo para vir. A falta de tempo contribui no empobrecimento do jornalismo cultural.
    • A editoria de cultura é sempre considerada perfumaria, é legal, mas não é importante. Havia brigas diárias para emplacar chamadas de cultura. Sempre que tinha de cortar algo, era na área de cultura.
    • Sobre os textos que foram enviados.
    • Editar é quase um ato político, você lida com informação, que é poder. Como trazer a informação de forma genuína, refletida, etc.?
  • Questão da responsabilidade do jornalista
  • Cadernos deixam de abordar temas socialmente importantes
  • São amplificadores da indústria cultural
  • Jornalismo deveria fazer refletir e educar
  • Qual seriam elementos que deveriam estar presentes no jornalismo cultural e os problemas?
    • Ampliar o acesso a bens culturais diversos
    • Novas perspectivas para a cultura
    • Mais democrático
    • Conhecimento crítico
    • Incapacidade crítica (leitura sem questionamento)
    • Ausência de responsabilidade por parte dos jornalistas
    • Sem leitores críticos, o jornalismo só piora
    • Enxurrada de informações – isso significa melhor formação?
    • Poucas reportagens
    • Espaço para pensar o presente, passado, futuro
    • Superficialidade, falta de discussão de temas
    • Credibilidade da informação
      • Blogs e sites podem ser levianos
    • Ausência de equilíbrio entre entretenimento e reflexão
    • Exploração do banal
    • Cadernos de cultura estão se transformando em colunas sociais
    • Como o conhecimento é usado para estabelecer verdades
      • a verdade pela repetição
    • pão e circo – dar ao leitor aquilo que ele quer
      • fenômeno das pesquisas para saber o que o leitor quer ler
    • poder dos jornalistas – jornalistas culturais tornam-se ditadores do bom gosto e destruidores daquilo que não está na pauta do dia
    • distanciamento do fato cultural com a realidade em que vivemos, como trazer a manifestação cultural para a realidade brasileira ou mundial?
      • Crime em diadema, policiais mataram uma ou duas pessoas. Isso foi filmado e televisionado, tornando-se discussão nacional.
        • O que fazer na área de cultura para se inserir em uma discussão como essa? Fingir que nada tivesse acontecido?
        • Matéria cultural a respeito do hip hop em São Paulo, mostrando que o que ia acontecer já vinha sendo denunciado
    • Linguagem – contato com temas artísticos melhoram os textos
    • Maneira condecendente de noticiar o nordeste, como se não produzissem cultura urbana
    • América do Sul é invisível
    • Burocratização destruindo a espontaneidade e dureza ao relatar os fatos
    • Cópia & Paste e “dadaísmo”, jornalista pop star muito ego e pouca ética
    • Internet, espaço alternativo que oferece amplo campo para trabalho, mas de acesso limitado. Inclusão digital é um fator.
    • “Internet é caótica, alguém precisa colocar ordem na casa”
    • “Exigir leitor mais qualificado” para distinguir o que é bom, porque na Internet tudo é mais fragmentado.
    • Na Internet o indivíduo é o próprio filtro.
    • Nova cultura sendo criada e novos fenômenos culturais
    • Redes de informação livres e safra de blogs fora do eixo
    • Nova construção coletiva do conhecimento
  • FÁTIMA ALVES, RONDÔNIA
    • Lá em Rondônia estamos em outro Brasil. Temos quatro jornais diários, para uma população de 350.000 habitantes. Apenas dois tem página cultural. O editor do caderno de cultura (Diário da Amazônia) é também fotógrafo e repórter. Não há teatro. Apesar disso o movimento cultural tem sido muito efervescentes. Única capital que não tem um teatro. Há uma relação “promíscua” entre jornal e o governo.
  • REGINA – Isso também acontece na grande imprensa em outros locais, de forma mais sutil e em outra escala. Cada vez mais há menos gente trabalhando nas redações e fazendo mais coisas. Não dá para saber como resolver isso e o que acontecerá no futuro.
  • ITEVALDO, Maranhão
    • Como resolver o problema do caixa do jornal? O jornal fica refém do seu setor comercial. Como fugir das amarras das relações comerciais? Os jornalistas culturais são fruto de uma estrutura econômica dos jornais do país inteiro. Cada lugar tem problemas muito parecidos. Como conseguir pautar “Tróia” em Manaus. Nesse ano o Guarnicê não ganhou uma linha nos jornais, em razão do seu patrocínio. Ser crítico no Maranhão é decidir entre a cultura local e a nacional. Jornais de São Paulo copiam modelos que não são adequados também para o Rio e para São Paulo, por exemplo, modelos estrangeiros.
  • ELIAKIN, Boa Vista
    • Os textos representam o que há de mais contemporaneo no jornalismo cultural no Brasil. Vc encontrou alguma novidade nos textos? Ou algo que esperava encontrar e não encontrou?
  • REGINA – Muitas coisas que eu vi nos textos são coisas que eu concordo, mas que pessoas com as quais convivi nas redações não concordam. Não vi muitas novidades, pois são coisas que eu já vinha pensando. Houve colocações diferentes. O filtro ser o próprio indivíduo na Internet é algo que eu não havia pensado antes. A questão da construção coletiva também me levou a pensar no tema de forma diferente. Não li os textos esperando encontrar algo específico.
  • Hermano – Uma das coisas que podem ser interessantes seria uma “trans-editoria”. O funk era noticiado sobretudo pelos cadernos policiais no rio de janeiro. O entendimento cultural do que acontece na periferia seria muito importante para os cadernos policiais lidarem com questões suas também. A maior parte das pessoas aqui também é produtor ou produtora cultural, já esteve dos dois lados. Fico pensando nas coisas que produzi, como o música do brasil. Nenhum levantamento musical tinha tido aquela dimensão. A negociação para lançar era muito esquisita. Certos jornais diziam que dariam a matéria, primeira página, se tiver exclusividade. Daí não sairia nos outros jornais. Se sai em um jornal antes, não interessa para os outros jornais. Você acaba conseguindo pautar os jornais como acessor de imprensa, dizendo o que será a primeira página, etc. Sou curador do TIM Festival, a gente é bombardeado durante o ano para saber quem vem. Depois, quando o Festival acontece, não tem cobertura do que aconteceu no Festival. Em nenhum momento tinha a cobertura dos shows brasileiros, ninguém falava. É importante para os brasileiros estarem lá por causa do currículo. Há um estilo de jornalismo dominante a partir dos anos 80 em que se valoriza a polêmica. Um situação foi quando acabei de defender a minha tese, O Mistério do Samba, sem perspectivas ainda de ser lançado. Um certo jornalista apresentava para as pessoas as idéias do livro, sem ter lido, dizendo “você concorda?”.
  • REGINA – O furo para mim não vale nada, o que vale é fazer melhor a matéria e não dar a notícia primeiro.
  • ITEVALDO, Maranhão – Quanto ao “trans-editorial”, o ministério das cidades está discutindo o plano diretor. Em São Luiz a gente usa a rua, a praça e uma série de espaços urbanos. Ao discutir a reforma urbana, não se discute a parte da cultura. É um ponto importante para o plano diretor. Qual é o lugar da cultura na cidade? Cultura e esporte, o que fazer?
  • EDMUNDO, João Pessoa – Sobre a questão do furo, já que a gente tem uma ferramenta como o site, é preciso notar que o mercado cultural vem usando isso em função do descrédito com os cadernos de cultura. Alguns artistas já se negam a dar entrevista porque o que vale é o release das majors. A Internet é meio de divulgação que tem mais crédito, porque ele é o filtro. Muita gente vai direto ao site.
  • HERMANO – Já escrevi vários releases e me perguntei quem iria ler aquilo. Aqui para o Rio e SP não importa, mas nos jornais do interior eles copiam direitinho, disse um certo jornalista.
  • RODRIGO, Mato Grosso do Sul – O meu texto falou da invisibilidade da América do Sul. Tive experiência de dois festivais em Corumbá da América do Sul. Eu acabei conhecendo vários artistas. Susana Baca e vários outros. Não saiu uma nota sobre isso.
  • REGINA – Informação sobre nossos vizinhos na América do Sul é difícil de chegar por aqui.
  • RENATO, Recife – Acho que a Internet, principalmente no caso da música tornou o quadro muito caótico. Surgiram uma série de brechas de trabalho. Fiz um programa diário no Recife, sem ter contato com gravadoras. Tive sorte de trabalhar com mp3. Nem há mais a figura do divulgador de gravador em Recife. Os discos que eu recebo eu guardo e vendo por R$10 e gasto com outra coisa. Um ou outro disco eu guardo ou baixo na Internet.
  • REGINA – A questão do caos hoje na Internet trazido para a indústria da música, acho natural ser caótico nesse momento, já que o mundo nasceu do caos também. Esse é um período de muita novidade nessa época. As coisas acontecem muito rápido. Quem garante qual teoria está certa? Temos de aproveitar esse momento de caos para avançar quanto à criação coletiva.
  • FELA, Bauru – Morava em SP eu fui para Bauru. Só tem um jornal, ligado a um grupo empresarial da cidade. Sobre a questão do filtro e ser editor do seu próprio material, também o leitor pode fazer o filtro. A Internet tem uma falta de credibilidade muito grande. A molecada só faz trabalho buscando coisas na Internet. Se trabalhassem em jornalismo, estariam “ferrados”, já que não questionam nada.
  • REGINA – Quanto a essa visão mais descentralizada, ninguém consegue fazer nada que não seja minimamente filtrado, de acordo com sua formação, opinião etc. Duas coisas essenciais para o jornalista. Empenho e paixão. Quanto ao lado da credibilidade da Internet, deve ser vista como um meio, não um fim. A forma como vc vai ler ou escrever depende de informação que vc não obteve na Internet, mas em outras fontes.
  • Hermano – A Internet teve já três grandes blocos de história. O primeiro momento desbravador, em UNIX. Depois a web, que facilitou e tornou popular. E depois dinheiro grande entrou na construção da rede. No Brasil foi muito esquisito. A embratel achava que seria o único provedor. Vários outros provedores entraram muito rápido. A bolha logo estourou e os investimentos começaram a dar dinheiro de novo. Vários colegas acharam que iam ganhar fortunas na Internet. A questão do software livre e da criação de conhecimento coletivo ficou muito mais clara agora. O Software Livre é a grande questão cultural, social e política debatida no mundo hoje. A geração dos anos 60, comparada ao software livre e o que ele está conseguindo fazer, com apoio da IBM, de maneira a atingir o centro do poder, Micro$oft etc. que me parece ser um momento muito propício para investir em um trabalho como esse. Nossa idéia não é criar coisas novas, mas conectar coisas que já existem.
  • RENATO – Recife – Em uma pesquisa sobre credibilidade, o jornalismo impresso pode muito bem aparecer como tendo menos credibilidade. A principal fonte de notícias e furos no escândalo são os blogs, por exemplo o do Noblat.
  • REGINA – Esse caminho está sendo de fato trilhado.
  • ELIAKIN, Rorááááima – Endereços para todo mundo, para que se crie a rede.
  • YUNO, Natal – O Overmundo é justamente para organizar um pouco esse caos. Chega de filtro, o site é um imã de idéias que estão dispersas e que o Internauta pode encontrar. Pode-se transformar em uma consulta diária.
  • HERMANO – Viva Favela é um exemplo, eles formam correspondentes em favelas cariocas. O que deu certo não foi que tem leitores nas favelas. O site se tornou um pautador para as outras mídias, cultural, RJ TV, Jornal da Globo, que não tinham acesso a assuntos que estavam acontecendo nas favelas. Isso é como virar uma agência de notícias mesmo.


TERCEIRA SESSÃO

TERCEIRA SESSÃO – PAULO MIGUEZ

  • Hermano – A idéia do Overmundo vem de longe, há muito tempo que pensamos em fazer um site para todo o Brasil, com a cultura local de todos os Estados. Miguez foi secretário de políticas culturais com o Gil. Não temos medo do mercado, achamos que há vários mercados, inclusive vários mercados interessantes.
  • PAULO MIGUEZ
    • A questão da economia da cultura tem a ver com a queixa feita durante todo o dia. Não adianta querer voltar para o jornalismo cultural da década de 60 e 70. Na época a indústria cultural era ainda incipiente. Cultura e informação assumiram uma lógica de mercadoria, colocando para trás praticas antigas. Na medida em que essa economia se fortalece, não adianta querer voltar a um tipo antigo de jornalismo cultural. Economistas clássicos não se importam com a questão. Tempo livre não interessa ao economista. Carlos Lessa é um dos poucos que se aproxima dessa questão e Celso Furtado.
    • Economia da cultura ou economia criativa. O idéia de cadeia produtiva também se faz presente no estudo da economia da cultura. Vai desde a atividade do artesão à música e ao cinema. Hollywood é o exemplo de cadeia de produção complexa. Mesmo a indústria de eletrônicos para o consumidor é parte dessa cadeia de produção cultural. Trata-se de uma economia não poluente (mesmo poluição intelectual). É uma economia em que a automação não desemprega tanto. Não há barreiras à entrada (diplomas, por exemplo). Cria emprego e renda. Gera tributo e imposto. Atrai indústria e trabalhadores qualificados.
    • Entre 94 e 2000 a indústria de criação foi a que mais cresceu, ultrapassando o setor financeiro e de serviços. Só produtos que têm a ver com propriedade intelectual respondem por 6% do PIB americano. Na UE, 99 bilhões de euros correspondem ao mercado audiovisual. O setor que mais cresce na Inglaterra é a cultural (12% ao ano)
    • Não há números no Brasil para a economia da cultura. Não há números para discutir, por exemplo, orçamento. Os números disponíveis são de 1997. Medidos pela Fundação João Pinheiro de BH.
      • 510 mil pessoas empregadas na produção cultural (mais do que indústria automobilística)
      • Para cada 1 milhão de reais investidos, são gerados 160 empregos diretos
      • Salários são 73% maiores do que em outros setores
      • Carnaval da Bahia (Afro-Eletro-Empresarial)
        • É um exemplo para outras cidades brasileiras e estrangeiras
          • Barcelona
          • Figueira da foz
    • Desafios hoje para se enfrentar a questão da economia da cultura
      • Números, sem os quais é impossível discutir a questão
      • Capacitar pessoas para o desenvolvimento de projetos
    • O MinC acertou um acordo de cooperação com o IBGE, para elaboração, quiçá, de um PIB da cultura brasileira
    • Centro Internacional das Indústrias Criativas
      • Junho de 2004 – 11ª reunião da UNCTAD, então chefiada pelo Rubens Ricupero
      • Graças ao esforço do Gil, foi acertado que os países em desenvolvimento
      • UNCTAD recomendou um centro novo, dedicado a auxiliar a formulação de políticas nessa área
      • O Brasil irá sediá-lo
      • Encontro em Salvador em Abril, acerto a criação do centro
      • Adesão da idéia é grande.
        • PNUD
        • UNESCO
        • OIT
        • OMPI
        • Eua ainda não definiram posição a respeito
    • YUNO de Natal
      • O nome indústria cultural não é bom, como lidar com a questão da “indústria”
      • Na minha cidade a micareta é muito forte. “Curral fantasiado uniformizado”. Se fosse proibida a venda de bebida alcóolica, será que aquilo continuaria?
      • O pessoal do rock bebe fanta, por exemplo. A cultura não depende da bebida.
    • MIGUEZ – A distinção de arte comercial e não-comercial é bobagem. Essa distinção não leva a lugar nenhum. Quanto à bebida, não
    • PATRICK, Bahia
      • Como colocar ética na economia da cultura na bahia, em que há exclusão social na própria festa e pouca diversidade. Como torná-la mais diversa?
    • MIGUEZ – É verdade. A festa virou um grande mercado, mas isso não é mal. É preciso regular a situação dos “cordeiros”, que controlam as cordas separando as pessoas. Regulação do mercado é a solução. Mas continua sendo um mercado especial. É preciso ter política cultural. O problema não é ter virado um mercado, mas sim porque o estado se desobrigou de produzir políticas culturais a respeito. Em síntese, falta regulação e políticas culturais. Hoje todo mundo vai praticamente igual, não há diversidade nas fantasias.
    • Hermano – Até os anos 50 com o aparecimento dos trios elétricos, os ricos brincavam nos clubes e os pobres na rua. Os ricos foram obrigados a irem para a rua, se rendendo à força cultural do carnaval. Eu participei do carnaval em que apareceu o Luis Caldas. Depois o Carnaval do Olodum. Daquilo para a Globo demorou 5 anos. Aquilo já acontecia como indústria cultural na Bahia. Não dá para usar o argumento Frankfurtiano de que a indústria cultural está impondo o que acontecia. Isso não se explica pela força da mídia impondo uma coisa de baixa qualidade. O Araketu foi o primeiro bloco afro a se eletrificar. Ninguém queria saber daquilo em gravadoras. A indústria não estava preparada para aquilo. Só depois começou a circular.
  • JEFFERSON, Minas
    • Será que a iniciativa privada não está tendo demais a responsabilidade de fazer ela mesma? Em Minas só se patrocina através das leis. A iniciativa privada não consegue fazer nada sozinha mais.
  • Hermano – O Jefferson organizou um festival de música eletrônica fundamental, mas tudo na dependência do MINC e da lei estadual. A empresa só investe se for através das leis.
  • MIGUEZ – Por 8 anos o MinC praticamente se resumiu a lidar com lei Rouanet e nada mais. As leis são importantes, mas não podem desobrigar o estado de finanaciar a cultura. O dinheiro de orçamento também tem de ser empregado na cultura.
  • RENATO, Recife
    • Em Recife a lei mudou, agora é um fundo de incentivo à cultura. O Estado reservou 50% do total do fundo, mas agora o percentual é definido a cada ano. O Estado pode se reservar 100% do total do fundo. Mas ao mesmo tempo as empresas pararam todos os patrocínios, pois não podem colocar logomarcas. Há uma crise. A secretaria passou a usar o fundo como forma de cobrir a ausência de verbas da secretaria de cultura no orçamento.
  • EDUARDO, Cuiabá
    • Pela primeira vez foi criado também um fundo de cultura, com 50% de reserva. O secretário está indo a Brasília (João Carlos Vicente Ferreira). É necessário um controle externo desse modelo. A manipulação dessa verba seria um caos.
  • MIGUEZ – Aluísio Magalhães já falava sobre isso. O dinheiro de todos os ministérios é garantido, mas os do MinC não.
  • RICARDO, Bauru, SP
    • Miguez não vê problemas de usar o termo indústria cultural. As leis são muito pautadas pelo folclore no interior. A longo prazo será que a região não se torna refém daquele tipo de cultura “tradicional” ?
  • MIGUEZ – Nos anos 70 havia 33 blocos afro na bahia. Hoje há 3 ou 4. Na hora de disputar recursos com o afoxé (candomblé de rua), é difícil. O afoxé vai ter dificuldades de discutir com a Brahma. Daí o estado precisa apoiar o afoxé, já que senão dificilmente sobreviveriam. É preciso garantir aos blocos de bairro e ao afoxé a capacidade de sair sem ter capacidade empresarial. A política cultural não pode ser dirigista. É preciso irrigar áreas que dificilmente obtêm recursos.
  • ELIAKIN, Roraima
    • Nos anos 60 quem fazia jornalismo eram intelectuais, artistas etc. Hoje todos nós somos artistas, mas fazemos jornalismo cultural. 70% dos projetos esbarram no balcão, segundo Miguez. A idéia não é capacitar os artistas a fazer projetos, mas sim acabar com a burocracia. A idéia é facilitar o acesso do artista. 70% ficarem no balcão é muito.
  • Miguez – Sou contra transformar todo mundo em empreendedor. É preciso criar outros mecanismos para que os artistas não se desviem de seu objeto de criação. Uma parceria com o SEBRAE está sendo tentada. O Sebrae formatar projetos para artistas, por exemplo. Artista não consegue empréstimo porque não tem garantia. É preciso criar mecanismos para lidar com isso. Não é o ideal que todo mundo tenha que ser do mercado.
  • ETEVALDO, Maranhão
    • O que cabe ao Estado então? O orçamento é gasto em sua maioria com festa de São João e Carnaval. Há um modelo híbrido de informalidade. Há um percentual pequeno de blocos empresariais. A questão da Raiz é muito importante. Como falar para um mestre bumba-meu-boi que ele precisa dar nota fiscal?
  • Miguez – São poucas as cidades com conselho de cultura. A desorganização é grande. É preciso criar um modelo específico para lidar com as verbas. Há várias outras áreas que o Estado tem de atuar. Área de gestão cultural, formação, etc. Não há disciplinas específicas em gestão cultural. O problema são os recursos e incompreensão do papel estratégico do campo cultural para o desenvolvimento. Todas as análises da vitória do presidente Lula não são pensadas pelo lado da cultura.
  • RODRIGO, Mato Grosso do Sul
    • A lei de incentivo existe de 99, o conselho de cultura é bastante atuante. O que se fazer com os produtos culturais elaborados? Criticam, por exemplo, que o Estado de Mato Grosso do Sul está fazendo um festival em Corumbá misturando artistas da terra com outros do Brasil e América do Sul e não investindo em outras áreas?
  • MIGUEZ, a própria formação do orçamento já mostra o papel secundário da cultura. São raros os Estados que compreendem o papel da cultura. O Ceará é um caso, o trabalho lá é bem feito. Há uma briga diária do MinC com outros ministérios por conta do orçamento.
  • RENATO, Recife
    • Ficou claro que o Estado tem uma função civilizatória na relação com o mercado. Duas necessidades. Tornar-se mais democrático, haja vista o comprometimento com as elites. O jornalismo cultural cobre muito mal as políticas públicas na área de cultura. Cada vez mais o estado perde seu poder de regulação e intervenção.
  • MIGUEZ – Acho que sim, especialmente no início dos anos 90, vivemos sob uma lógica de redução do Estado, saindo de uma série de áreas, inclusive a cultura. Marcaram outras áreas também. São áreas que não interessam ao mercado em muitos casos. O velho Estado substituía os atores sociais. Em Moçambique, onde vivi, tudo era nacionalizado, do Estado. Cultura é um setor estratégico, é preciso garantir condições institucionais, sem dizer se é bom ou ruim.


SEGUNDA SESSÃO

  • SEGUNDA SEÇÃO – JOSÉ CARLOS AVELLAR

José Carlos Avellar é crítico de cinema com colaborações em jornais e revistas especializadas. Co-autor de trabalhos sobre o cinema brasileiro e latino-americano - entre eles Le cinéma brésilien (Centre Pompidou, Paris) e Hojas de cine (Universidad Autonoma Metropolitana, México, - Avellar teve inúmeros ensaios publicados em catálogos de festivais de cinema como o de Manheim, Locarno e Valladolid. Autor de quatro livros, entre eles O chão da palavra: cinema e literatura no Brasil (1994) e A ponte clandestina (1995), Avellar é atualmente secretário para a América Latina da Fipresci, associação internacional de críticos de cinema.

  • A crítica de cinema mudou? Antes escrevia-se sobre cada filme que estreava. Na década de 50 havia cerca de 4 a 5 mil cinemas no país. Cada filme passava por pouco tempo, mas eram repetidas em cinemas de bairro. Agora há um terço do número de salas no brasil, 1600 salas aproximadamente. Entram no país cerca de 200 títulos (antes eram 600). Os centros de produção que chegam aqui hoje são poucos. 80% é hollywood e cinema dos EUA. Os modelos de pensar o cinema vinham ou da Europa ou dos EUA. Nos anos 40 e 50 pensava-se ou de acordo com Hollywood ou Europa (neo-realismo, por exemplo). A reflexão era feita em um parte menos nobre dos jornais. Havia um crítico titular e secundários. Os últimos escreviam sobre as salas acessórias. Escreviam sobre filmes búlgaros, poloneses, japoneses etc.
  • Comecei a trabalhar no JB no começo da década de 60. A redação tinha uma organização diferente. A redação era muito mais integrada, quem escrevia sobre música falava com quem escrevia sobre teatro. O poder de decisão era muito maior também. Os textos de análise e interpretação não tinham preocupação com a data de publicação, não precisava sair antes de ninguém, era melhor tratar em profundidade o assunto.
  • Alguns filmes como Deus e o Diabo, tinham críticas publicadas em capítulos. Se o filme merecesse uma página de jornal, ele ganhava uma página. E isso não impedia outras críticas de serem publicadas também. A cobertura, mais do que noticiar eventos, oferecia informações para que o leitor do jornal pudesse se relacionar criativamente com o evento e também com o meio cultural em si.
  • Isso se perdeu. A cobertura de eventos culturais hoje tem outra organização nos jornais, há uma perda. Uma proposta cultural que não obedeça às linhas hegemônicas do cinema tem grande dificuldade de ser apreciada pelo leitor e espectador. Em 97, a Rio Filme estava para lançar um filme específico, e fizeram uma pesquisa sobre o espectador de cinema. A idéia era estabelecer uma estratégia de lançamento. Pelo levantamento, surgiu uma situação inusitada. Não anuncie em jornal nem em TV. Jovens não lêem jornais. Tente um contato direto com as pessoas.
  • A crítica dava pontos de referência para o leitor. O crítico manifestava um gosto pessoal, por exemplo. O leitor era incentivado a estabelecer uma linha argumentativa, até para responder ao crítico. Hoje isso está em falta. O crítico diz “vá ver” ou “não vá ver” e não argumenta. Mesmo nos espaços de literatura, esse padrão aparece. A recomendação hoje é ter sido mais vendido, ou ao ser lançado nos EUA teve uma renda X ou Y. A tradição de se ter um suplemento literário tem desaparecido.
  • EDUARDO FERREIRA, Cuiabá
    • O império do mercado está de fato acontecendo. O mercado é o agente do imperialismo, o mercado é “deus”. As salas de exibição não tem interesse em exibir filmes brasileiros. Gostaria de saber o que vc acha da digitalização das salas, se poderia propiciar uma democratização para o cinema brasileiro.
  • AVELLAR – Não acredito em milagres. Esperar que isso vá resolver algo não vai adiantar. Existe uma área em que o digital invade, a parte de criação. É muito mais fácil hoje fazer um filme em casa. Entrar com esse produto no circuito tradicional não funciona. Antes, a dificuldade de se expressar cinematograficamente era nos equipamentos. Hoje é na distribuição. Acho que o digital. Há documentários brasileiros gravados em digital que por isso mesmo foram completados. Muitas vezes o Super 16 é mais barato que o digital e tem qualidade melhor. Quando o Glauber filmou o terra em transe, perguntaram qual era o equipamento chamado “Dib”. E esse era o nome do fotógrafo. Hoje usa-se o steadycam.
  • Hermano – O diagnóstico da perda me incomoda. Aqui eu tendo a concordar com essa visão.
  • YUNO de Natal
    • O filme Contra Todos é um exemplo. Essa qualidade não é inversamente proporcional ao tempo disponível? Será que ainda há tempo hábil para uma crítica pertinente?
    • Hoje não há especialização dos críticos.
    • O futuro do cinema é digital?
  • Avellar – Quando a Net anunciou o Telecine, a idéia era de que haveria 120 horas por dia para ver filme. Ninguém riu quando viu essa publicidade. O que um jornal tenta fazer com a cultura? Os críticos especializados nem sempre recebiam pelo que faziam. Existiam cineclubes, boca-a-boca era intenso. A oferta era muito maior. O jornalista hoje escreve sobre o que acabou de ler, sem muito embasamento na área. Hoje lê-se filosofia como se lê auto-ajuda. Não há tempo para se refletir sobre o que se lê ou vê. Várias críticas são simplesmente “republicadas”. Dizer se filme digital é cinema ou não é um preconceito. Não é a técnica que define o que é cinema. O que define é como vc usa expressivamente os recursos cinematográficos, é isso que importa. A maior facilidade de filmar com o digital leva muitas vezes à imitação.
  • O futuro do cinema é “cinematográfico”. A vontade é o que move qualquer atividade. A vontade está sempre adiante da coisa técnica. O ivento está sempre atrás.
  • YUSSEF, Manaus
    • A obra cinematográfica, por ter caráter efêmero, vai passar. No filme Tróia, chamamos dois professores da Federal do Amazonas. Fizemos uma discussão sobre a fidelidade do filme com relação á obra original. Com relação à Paixão de Cristo, fizemos uma matéria sobre pessoas desaprovando o filme, como pastores evangélicos. O jornal de maior circulação em Manaus circula com 8000 exemplares por dia. A repercussão é bem segmentada. A grande massa “deixou de ler jornal”. Prepondera a mera repetição dos releases. No seu texto, que fala do cinema brasileiro tendo a missão de criar filmes que não se fechem em si mesmos, podendo abrir discussões, isso deve servir de inspiração para nós jornalistas. Nós podemos ir além no enfoque.
    • Com esse tipo de enfoque viciado nas redações, quem poderia alavancar a visibilidade de novas formas de produção? A classe média?
  • AVELLAR – O quadro de Manaus não é exclusivo de lá. Os jornais estão perdendo leitores porque estão correndo a reboque da televisão. Querem ser tão rápidos quanto a TV. Com isso, abrem mão de uma função mais cultural, crítica. Macunaíma foi lançado com 800 exemplares em 1928, paga pelo próprio Mário de Andrade. Por um longo tempo circularam pouquíssimos exemplares do livro. O livro levou 50 anos para acontecer na cultura brasileira. Os jornais têm de se equilibrar entre mercado e expressões culturais. Outro livro, Mademoiselle Cinema, publicado dois anos antes de Macunaíma. O custo da produção americana continua a subir, impondo o cinema americano pelo mundo, impedindo um cinema local de emergir.
  • MAYRA, Aracaju
    • Há uma dificuldade de ter uma formação visual que vá além do cinema em Aracaju. Em Maceió só tem 6 salas de cinema. Há 16 salas apenas. Ficamos muito animados quando o segundo multiplex abriu. Os blockbusters entram em praticamente todas as salas. Há uma dificuldade de haver uma formação naquilo que não é de massa. O filme do Eduardo Coutinho, Edifício Master, foi muito importante para minha formação. Só consegui ver em um festival em que o filme era convidado, muito tempo depois do lançamento. O maior problema do cinema brasileiro é a distribuição. Os meus alunos estão fazendo cinema com câmeras digitais. Mas quem assiste? O que está faltando de políticas públicas nesse sentido? Em um curso com o Ismail Xavier sobre crítica de cinema, o ideal seria focar na “descrição”. Como falar de filmes que não estão mais em cartaz?
  • AVELLAR – Podemos até mesmo piorar esse quadro. Ao mesmo tempo, as coisas não são tão sem solução assim. 70% das salas estão no Rio e São Paulo. Nem mesmo no interior, mas nas capitais. Há uma enorme concentração. Há uma dieta cinematográfica pobre, além disso. A idéia é imitar ou hollywood ou a tv globo. Mesmo que o tema seja brasileiro, o modelo é de novela. Se a idéia é magia cinematográfica, o caminho é hollywood. Não é o jornalista que se empobreceu, mas o jornalismo como sistema. Não escrever sobre filmes que estão fora de cartaz é um dado do sistema. Há uma permanente histeria pelo novo. Não faz mal só ter filmes ruins. O espectador pode ver o filme ruim, mas com isso refletir sobre o conflito. Desenvolver uma relação crítica com o cinema, por exemplo. O caso do neo-realismo é exemplar. Quando acabou a guerra, emergiu o neo-realismo com Ladrão de Bicicleta, Paisà etc. O jornal perdeu legitimidade com seu leitor, porque renunciou a essa relação “dialética” com o leitor. Mesmo vendo filmes ruins, podemos descobrir propostas cinematográficas boas. O problema é não se estimular a relação crítica com outras formas culturais.
  • CAROL, Amapá
    • Houve uma experiência interessante em Amapá. O padrão Hollywoodiano acaba influenciando o modo de fazer cinema. Um documentário sobre uma festa chamada Santiago. Havia uma oficina, para produzir um vídeo (foi a primeira oficina de cinema por lá). Como selecionar? Só toparam ficar as pessoas que aceitavam a proposta de fazer algo diferente da globo e de hollywood. Isso já excluiu vários dos “candidatos”. Os participantes fizeram um curta, organizaram a estréia etc etc. Esse modelo único não é necessário. O jornalismo cultural entra justamente para mostrar essas possibilidades. A jornalista acabou se esquecendo de falar da iniciativa, mas se focou em se havia gostado ou não do filme.
  • AVELLAR – Boa parte da crítica acha que é o pai do espectador. Há uma atitude semelhante, como incitar brigas com a produção, em que a crítica é mais importante do que a produção. Ações críticas criam novas formas de relação com o filme. As pessoas que passaram pela experiência vão ver filmes de outra maneira. A idéia é se relacionar criativamente com o filme. Em um documentário, o que se documenta é o “modo de se ver as coisas”. “O processo criativos” do Marcel Duchamp é exemplar. A obra realiza apenas um percentual da proposta do artista. O que se pode fazer, então, com o trabalho crítico? Completar a obra, por exemplo. Acrescentar algo à obra. A crítica é uma participação criativa também.
  • GUSTAVO, Belém
    • A imprensa localiza a novidade musical, mas não consegue perceber novas formas de fazer cinema. Existe um site chamado customflicks em que qualquer pessoa pode mandar seu filmes. Há sites que têm festivais de cinema completos. Há coisas boas e ruins. Há várias pessoas que começaram nesses sites e foram chamadas pela indústria. A facilidade de distribuição também é exemplar. O melhor momento de se fazer cinema é agora. O caso do Mar Aberto é exemplar, foi feito com baixíssimo orçamento. Será que cinema hoje em dia é só o que passa no cinema? Já em 95 o Robert Rodriguez filmava em VHS, direto. Muita gente fazendo filmes direto para o DVD. Os realizadores mais novos estão percebendo que não dá para passar produções novas no cinema. Eu acho que o futuro é o cinema digital, nesse sentido de cinema independente e com capacidade de aumentar muito a produção feita hoje. As mídias hoje são extremamente eficientes. A imprensa precisava falar mais sobre isso. Não se fala dos filmes independentes.
  • Hermano – O cinema da nigéria é um exemplo, feito 100% para o mercado doméstico.
  • AVELLAR – Filme “O mensageiro”. Há um plano em que a câmera está no chão, seguindo um abelha. No fundo, vê-se um garotinho. Na televisão, não se via a abelha. Quando desloca o foco para o garoto, não se vê o garoto também. Filmes feitos para passar no cinema perdem muito na TV, não foram feitos para isso. Outros filmes, têm um impacto muito maior no cinema. Há formas de se servir dos recursos do cinema especificamente para a Internet e para o digital.

PRIMEIRA SESSÃO

  • Primeira Sessão – José Miguel Wisnik

QUEM É JOSÉ MIGUEL WISNIK...

José Miguel Wisnik é músico/compositor e professor de Literatura Brasileira na USP. Nasceu em São Vicente, no litoral do estado de São Paulo, e define-se como um "paulista do mar" (além de "baiano também").
Wisnik estudou piano clássico durante muitos anos, mas optou pela faculdade de Letras. Apresentou-se pela primeira vez como solista da Orquestra Municipal de São Paulo aos 17 anos, interpretando "Concerto n¼ 2", de Camille Saint-Saes. Em 1968, chegou até a participar de um Festival Universitário da extinta TV Tupi com a canção Outra Viagem, cantada por Alaíde Costa (e gravada posteriormente por Ná Ozzetti).

Por volta de 1985, Wisnik acabou se juntando a diversos músicos, era um "freqüentador" do Grupo Rumo e compunha músicas com os amigos. Se diz um professor universitário que queria ser músico popular e desde 1973 nunca parou de dar aulas.

Tem três discos gravados. O segundo, São Paulo Rio, teve participação de Elza Soares. Esta "parceria" com a cantora lhe rendeu a direção artística do último disco de Elza, além de alguns shows em 2002.
São Paulo Rio chegou ao mercado exclusivamente pela internet em uma parceria entre o portal iG e a loja virtual Submarino, e hoje é encontrado também em lojas. Wisknik já teve suas músicas gravadas por Gal Costa, Ná Ozzetti, Edson Cordeiro, Zizi Possi entre outros.

Também escreve ensaios sobre música e literatura. Publicou "O Coro dos Contrários - a Música em Torno da Semana de 22" (Duas Cidades, 1977), "O Nacional e o Popular na Cultura Brasileira" (Brasiliense, 1982) e "O Som e o Sentido" (Companhia das Letras, 1989), além de participar dos livros coletivos "Os Sentidos da Paixão, o Olhar e Ética" (Companhia das Letras, 1987, 1988 e 1992).

Além de seus discos, livros, ensaios e aulas, Wisnik fez também música para cinema (Terra Estrangeira/Walter Salles e Daniela Thomas), teatro ("As Boas", "Hamlet" e "Mistérios Gozozos" para o Teatro Oficina, e "Pentesiléias", de Daniela Thomas, dirigida por Bete Coelho) e dança. Fez duas trilhas sonoras para o grupo Corpo, uma delas, Parabelo, em parceria com Tom Zé.

Já recebeu alguns prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte, além do premio Jabuti em 1978 entre outros.

  • Hermano se lembra de uma história com Tinhorão também, tal qual o texto do Wisnik
  • Hermano ficava tocando funk carioca na frente do Tinhorão, que não achava boa idéia
  • Tinhorão ficava falando que o livro do Hermano “Os mistérios do samba” estava todo errado...
  • Wisnik começa a falar sobre seu texto. O texto descreve o primeiro encontro dele com Tinhorão na década de 70 e 15 anos depois. O texto considera várias questões pertinentes à discussão do projeto Overmundo. A idéia é ouvir o grupo, que questões surgem a partir do texto?
  • Perguntas, indagações? ? ? ? ? ?
  • YOUSEF ABRAHIM de Manaus
    • Tanto o audiovisual quanto à música são formatados para consumo fácil. Em Manaus, de 20 anos para cá tudo demorava 6 meses para chegar. Mas ainda vemos o mesmo tipo de “música fácil” por lá. Não vi muitas mudanças. O gosto continua sendo imposto...
  • FÁTIMA ALVES, Rondônia
    • As pessoas continuam apenas “ouvindo”... O que se ouve em Porto Velho é o que se encontra aqui. O nosso grande questionamento é “o que está faltando?”. Por que a produção local só consegue ser ouvida localmente? Quem sabe a gente consiga um caminho para difundir o trabalho produzido localmente. Há produção em várias áreas, música, dança, literatura. Como furar esse “bloqueio nacional” ?
  • RENATO, Vitória, Espírito Santo
    • O texto que eu mandei descreve o fato de que no Espírito Santo não há cenas. O mesmo show que vai na Ivete Sangalo vai no Sepultura. Isso é positivo, pois todo mundo participa de tudo. Mesmo no lado “ruim” ou “positivo”. O ES pulou da agricultura para a indústria, importando mão de obra. Muita gente do país foi para lá, criando um caldeirão de influências de outros Estados. Finalmente perceberam que há muita coisa por lá. Não precisamos buscar “identidade”. Há desde os Mestres de Congo ao Dead Fish.
  • Hermano – Mesmo no mangue, havia a impressão de que nada acontecia antes. Nas músicas em que as pessoas escolheram, o Mombojó aparece em primeiro lugar. Como eles furaram o bloqueio, não sendo de nenhuma grande gravadora? Eles colocaram sua música na Internet.
  • RENATO, Recife, Pernambuco
    • Nos últimos 20 anos em Recife firmou-se todo um circuito de produção que não existia até os anos 90. Nos anos 80 não havia nada, nem rock nacional. A partir de 90 criou-se uma cena, até hoje atuante. Nos dados sobre o grupo apareceram duas bandas de Recife, Nação Zumbi e Mombojó, que é “pós-mangue”. Recife foi pioneira em várias iniciativas. Conseguimos “re-trabalhar” essas informações, procurando canais alternativos. O símbolo do mangue-bit era a antena parabólica enfiada na lama. Reconheço que há vários problemas na relação Norte-Sul, por exemplo, mas acho que há uma série de canais alternativos.
    • Todas as bandas continuam morando no Recife. Até a geração de Alceu Valença, todo mundo teve de vir ao Rio, SP. Agora dá para trabalhar na própria cidade.
  • Hermano – Canais globais também, como o DJ DOLORES, que vive pelo mundo.
  • José Miguel Wisnik – Há uma mídia que tem um poder massivo de filtrar o que se ouve. Essa mídia é uniformizadora. Ao mesmo tempo, há manifestações locais que ou não são ouvidas ou não conhecidas fora das localidades, ou existem redes novas para circular a cultura, que não correspondem ao funcionamento tradicional da indústria cultural. Isso aparecia nos textos do grupo, de duas redes paralelas. Acho que é a mesma coisa que no meu texto com o Tinhorão. Na cabeça do Tinhorão existe a grande indústria cultural ligada a interesses multinacionais afirmando um cultura mercadológica, em oposição a uma cultura nacional autêntica. Isso inclui um pensamento “adorniano” de que a cultura é mercadoria industrializada, destruindo a dinâmica da cultura. Ninguém mais escuta “música” em si, mas simplesmente tem uma atitude consumista de fetichização da mercadoria. As pessoas aderem àquilo, sem escuta. A audição regridiria, assim. Na década de 60 isso chamava-se de visão “apocalíptica” (o apocalipse da cultura). Eu chamo isso de “fundamentalismo do Tinhorão” no sentido de acreditar que existe uma cultura popular “autêntica”, genuinamente brasileira, opondo-se ao “estrangeiro”. Essa visão faz um recorte de oposições, acreditando que o popular é bom e o estrangeiro ruim. Na década de 60, a posição tropicalista veio como reação a esse quadro. Recusar essa “autenticidade”, dizendo que a vida no Brasil contemporâneo faz conviver samba de roda com Stockhausen etc etc. É como se não existissem nativos de nichos culturais específicos. O Gil expressa isso na música Parabolicamará. Tem capoeira e informação simultaneizada. Todos ganhamos não pensado ao modo Frankfurtiano, nem no modo do Tinhorão. Há sim um choque das duas visões. Onde se pensa a cultura? Pelos depoimentos do grupo, também a imprensa passa por uma desagregação ligada à situação financeira dos jornais. O investimento na Internet não deu certo como esperado e o trabalho jornalístico acabou empobrecido. Mas acho que é uma tendência do jornalismo cultural, que também é indústria cultural. Eu acho que de fato existe o fenômeno da regressão da audição e da debilitação do jornalismo cultural. Por exemplo, jornais que só reproduzem releases. Um certo jornal de São Paulo que criou uma idéia de que o protagonista é o próprio jornalista. Isso debilita o repertório de informações disponível. O PAS, que escreveu por anos na Folha, que é autor do livro sobre a Tropicália, é uma compilação de erros e desinformação. É uma questão de debilitação do repertório, que o jornalista precisa mobilizar. Na Argentina é possível notar que o jornalista trabalha lastreado. Vejo essa oportunidade como muito importante, nada garante que irá resolver, mas é muito estimulante que as pessoas possam trabalhar de acordo com o proposto nos testemunhos.
  • EDIMUNDO, João Pessoa, Paraíba
    • Essa é uma ótima oportunidade. A mídia paralela tem os seus veios também.
      Ela também nos empurra algumas coisas. Em João pessoa há o festival da Padroeira. Nesse ano mudou, teve Chico Correa e outros artistas que não tinham espaço antes. Houve um certo estranhamento por parte das pessoas que não esperavam por aquilo. Muitas vezes publicam-se matérias, mas não se sabe nada sobre o que ocorreu. É importante discutir como se buscar a informação.
  • Hermano – Qual o local da tropicália na cultura brasileira? Para um jornalista da geração do PAS isso tornou-se um problema para a cultura brasileira, porque nada mais pode acontecer. Muito da música que classificamos como música de baixa qualidade não está sendo imposto pela mídia. O forró contemporaneo toca só em rádios locais, o DVD é vendido no camelô. Essa música considerada de baixa qualidade não está na mídia. A música mais popular não está na mídia
  • FERNANDO COELHO, Maceió
    • Essas manifestações fora da mídia criaram seus próprios circuitos e são auto-suficientes. É importante conhecer o forró? Sim, mas também é importante conhecer os “mestres” tradicionais. O papel do jornalista cultural é investigar as mais diversas expressões. Independente de ser cultura de massa ou não. Qualquer informação que represente qualquer expressão é objeto de investigação.
  • EDSON, Goiânia
    • Goiânia tem uma cena forjada localmente de rock e música pop baseada na cultura norte-americana. Mesmo que os produtores e pessoas que lideram essa cena reforcem a idéia da independência, as bandas querem também aparecer no Faustão. Como tratar a tal da Major? Ignorá-la?
  • RODRIGO, Mato Grosso do Sul
    • O que é ser brasileiro? O MS tem uma grande influência do Paraguai. Há uma influência sobre a música de lá. É muito difícil para as pessoas de fora entenderem essa música. Os músicos de lá estão migrando para o Paraguai. As pessoas são muito mais Paraguias nos costumes do que brasileiros. Há várias iniciativas de se fazer festivais trans-nacionais.
  • ELIAKIN, Roraima
    • O que é brasileiro? A mistura é total. Desde os modernistas já havia a questão de deglutir o que é de fora. Sanfona e Guitarra elétrica? Melhor ficar com os dois. Em Roraima essa onda está chegando agora, como no movimento Rorameira. O conceito de “Glocalizado” é importante. O que achamos acha desse conceito de Glocalizado?
  • Maíra, Aracaju
    • Sobre a questão da visibilidade, quais são as prioridades? A lista de discussão nordeste independente é importante. Virou um canal importante de informações. A questão da qualidade é importante. Quem legitima o que? O que é bom? Isso parece ser a função do jornalismo cultural. Há muita gente que não tem condições de constituir uma rede. No Forró Caju, existe também um fórum, que inclui tanto os mestres quanto o pessoal do forró eletrônico. Que tipo de visibilidade mais é necessário? Os mestres estão lá para dizer que são eles que estão precisando de visibilidade. A questão não julgamento de qualidade, mas sim discutir quem precisa ser legitimado. Como usar o espaço que temos para ajudar a catapultar coisas que ainda não conseguiram espaço
  • Wisnik – Sobre o comentário do Eliakin de Rorááááima (e não Rorãima), fonte do Macunaima... Um traço brasileiro é a vitalidade de múltiplas formas de vida musical, tanto locais quanto interagindo, fronteiras com Paraguai e Uruguai, incorporação de tecnologias a coisas “nativas”, tudo isso é um traço brasileiro e invejável. Culturas mais estabelecidas separaram claramente entretenimento de alta-cultura e os trânsitos são muito menores. Por um conjunto de riquezas e pobrezas, no Brasil isso tudo se manifesta e se cruza. Tudo isso passa pela aceitação da diferença. O contexto de identidade nacional é rebatido pela idéia de que existem diferenças. Poesia e canção no Brasil, por exemplo. Há um momento de afirmação de diferenças também. Ao mesmo tempo, essas mesma questão produz uma nova pergunta sobre a identidade brasileira. Seria a identidade das diferenças? O trabalho do Hermano tem isso no cerne. Essa é uma questão muito presente. Como um site que propõe diversidades locais pode lidar com a idéia de conjunto? É possível jornais sem autoria, desaparecendo a idéia de autor. Isso é multiplicar a diferença em um limite infinito. Isso se decanta em texto, resultantes do processo. A identidade se coloca de outro modo, em outro lugar. Ao mesmo tempo a questão da identidade nacional.
  • POST
  • FÁTIMA ALVES, Porto Velho, Rondônia!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! (e não Roraima!)
    • O que é raiz e legitimamente local? Em Rondônia há uma questão interessante. Não é fazer resgate do que é local, mas por causa da migração, o Estado foi ocupado por gente de todo Brasil. A questão da cultura local está vindo à cena agora. A geração nova tem a nossa mesma faixa etária, brigando para colocar a cultura local em cena. A maioria da população nem a conhece. Eu vejo isso como muito interessante. Não estamos buscando resgate saudosista, mas sim de fazer conhecer e colocar em cena.
  • INTERVALO!!!!!!!!!!!! ËBA!

APRESENTAÇÃO

OVERMUNDO

Primeiro Dia – 8 de agosto de 2005

  • Hermano Vianna faz a introdução do seminário. Eliane costa virá apenas mais tarde, já que teve compromisso urgente.
  • Ângela Fatorelli acaba de chegar, ela será a representante oficial do MINC no seminário.
  • Angela
    • Trabalho com Sérgio Sá Leitão em vários projetos
      • PRODECULT, de economia da cultura
      • O MinC precisava de dados econômicos, além de quem faz o quê na cultura brasileira
      • O esforço agora é de organizar as informações, acervos do IPHAN, Funarte, dentre outros. Estão buscando apoio para montar um grande sistema de informação, inclusive com dados econômicos
      • A idéia já temos, mas o projeto em si está no começo
      • Mesmo na Europa esse esforço é novo
  • Hermano
    • O seminário está sendo transmitido ao vivo pela internet www.petrobras.com.br
    • Idéia do seminário é ser uma conversa e não sequência de palestras
    • A idéia é discutir a idéia do site com todo mundo
    • Vários textos foram distribuídos
    • Eu vou a muitos seminários e a maioria não produz uma troca de idéias, na hora da discussão não se produz uma grande troca de informações. Qual a utilidade disso?
    • Qual a outra maneira de fazer isso? O objetivo é geral algo na vida de cada um dos participantes, fora do “palco” do seminário.
    • A idéia é ser mais uma discussão coletiva do que uma falação
    • Hoje a conversa é mais livre, amanhã focaremos na estrutura do site
    • Temos aqui o Cardoso, Matias, todos que trabalham com blogs importantes e pioneiros, é importante ouvir a todos sobre como lidar com a produção cultural em todo Brasil
    • Vamos discutir também o modo de funcionamento do site

fotos do seminário